
Por décadas, a Escola Nacional de Arbitragem da CBF foi apenas um nome bonito sem qualquer impacto real no desenvolvimento da arbitragem brasileira. Criada com a missão de formar e capacitar novos árbitros, a instituição nunca teve autonomia plena, estrutura adequada ou instrutores que conseguissem justificar o que era gasto. O resultado disso é visível: árbitros mal preparados, comissões estaduais enfraquecidas e uma defasagem técnica preocupante nos profissionais que chegam ao quadro nacional.
Agora, sob a gestão de Rodrigo Cintra, surge a chance de transformar essa realidade. Mas para isso, será preciso mais do que boas intenções. A Escola Nacional de Arbitragem precisa de uma mudança radical. Não há mais espaço para instrutores que estão na CBF há anos, sem resultados expressivos e sem a devida qualificação para conduzir o ensino da arbitragem brasileira. A formação de um árbitro é um processo complexo, que exige um corpo técnico de excelência, um plano pedagógico sólido e acompanhamento contínuo – fatores que, até hoje, foram negligenciados.
Nos estados, a realidade da formação de árbitros é ainda mais alarmante. Muitas federações sofrem com a falta de estrutura e investimento, e a capacitação de novos profissionais ocorre, na maioria das vezes, sem qualquer padrão de qualidade. A ausência de uma diretriz nacional eficiente faz com que os cursos sejam ministrados por profissionais sem a devida qualificação técnica, resultando em árbitros inconsistentes que chegam ao quadro nacional sem a mínima condição de atuar no mais alto nível do futebol brasileiro. E pasmem: querendo apitar Série A.
Outro grande problema é a falta de integração entre a Escola Nacional de Arbitragem e as comissões estaduais. A formação deveria ser acompanhada de perto por instrutores capacitados, que pudessem viajar pelo país, observar o desenvolvimento dos novos árbitros e corrigir deficiências antes que elas comprometam o desempenho dos profissionais dentro de campo.

A ANAF (Associação Nacional dos Árbitros de Futebol), entidade que tem legitimidade para realizar cursos de formação, precisa ser uma parceira ativa nesse processo. Só assim será possível estabelecer um modelo de ensino eficiente, que atenda às reais necessidades da arbitragem brasileira.
Se a Escola Nacional de Arbitragem quer de fato cumprir seu papel, os nomes que conduzem os trabalhos precisam mudar. Não há mais espaço para o modelo ultrapassado que se arrasta há anos dentro da CBF. É preciso formar uma equipe com profissionais de credibilidade, que tenham conhecimento técnico e respeitabilidade dentro da arbitragem nacional.

Wallace Valente, ex-árbitro aspirante FIFA do Espírito Santo, é um nome incontestável. Respeitado dentro e fora dos bastidores, ele tem a bagagem necessária para elevar o nível da formação no país. Da mesma forma, Manoel Garrido, ex-árbitro CBF da Bahia, carrega consigo uma trajetória brilhante, sendo referenciado até hoje pelos grandes jogos que conduziu com maestria.
Outro nome de peso é João Lupato, ex-árbitro CBF do Mato Grosso do Sul, considerado um dos melhores instrutores do Brasil. Seu conhecimento técnico e sua didática fazem dele um profissional fundamental para qualquer reformulação séria da arbitragem. José Guilhermino, ex-presidente da comissão de arbitragem do Pará, tem no currículo a revelação de grandes árbitros, como Dewson Freitas, ex-FIFA, e sua experiência na gestão de talentos seria crucial para um projeto de formação sólido e bem estruturado.
Leonardo Cavaleiro, ex-árbitro CBF do Rio de Janeiro, completa essa lista de nomes essenciais para a reconstrução da Escola Nacional de Arbitragem. Respeitado no meio e reconhecido como um dos melhores árbitros do futebol carioca nas últimas décadas, ele traria um olhar moderno e atualizado para o desenvolvimento dos novos profissionais.

Rodrigo Cintra tem em suas mãos a oportunidade de marcar a história da arbitragem brasileira. Mas para isso, precisa ter coragem para fazer as mudanças necessárias. Deixar tudo como está significa manter a arbitragem no mesmo patamar de sempre: desacreditada, criticada e com formação precária.
Se a Escola Nacional de Arbitragem não for reformulada com autonomia, liberdade para atuar nos estados e, principalmente, instrutores de alto nível, continuaremos a ver árbitros chegando ao quadro nacional sem a preparação adequada, comprometendo a qualidade do jogo e a credibilidade da arbitragem brasileira.
O momento exige decisão e ousadia. Se Rodrigo Cintra deseja realmente mostrar que tem carta branca para mudar a arbitragem no Brasil, a renovação da Escola Nacional de Arbitragem precisa ser sua prioridade máxima. O futebol brasileiro não pode mais esperar.