
Por Pedro Paulo de Jesus
A saída de Ednaldo Rodrigues da presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) encerra mais do que uma gestão. Representa o colapso de um projeto de poder que tentou redesenhar à força o mapa da representatividade da arbitragem brasileira. No centro desse enredo está a criação da ABRAFUT, uma associação de fachada, formada sem base legítima, sem participação democrática e, acima de tudo, sem voz entre os profissionais da arbitragem.
Desde sua origem, a ABRAFUT surgiu como uma iniciativa paralela, apoiada politicamente pela então presidência da CBF. Seu objetivo não era o fortalecimento da categoria, mas a substituição da ANAF, entidade histórica, reconhecida por sua atuação firme na defesa dos direitos dos árbitros brasileiros.
Muitos profissionais da arbitragem, pressionados por interesses de escala e oportunidades em comissões técnicas, optaram por se alinhar a essa nova estrutura. Preferiram o conforto institucional à resistência associativa. Esse movimento, no entanto, se revelou passageiro. O apoio à ABRAFUT nunca foi espontâneo nem majoritário e, com a saída de Ednaldo, perde também seu único sustentáculo de influência.
A ABRAFUT não dialogou com a base. Não apresentou propostas de impacto. Não promoveu debates públicos. Limitou-se a oferecer um ambiente institucionalmente conveniente para alguns, sem representar efetivamente a categoria. Seu funcionamento, na prática, serviu mais como plataforma para garantir visibilidade a seus dirigentes do que como um instrumento real de transformação da arbitragem.
Em contrapartida, a ANAF, presidida por Salmo Valentim, manteve-se ativa, vigilante e coerente. Mesmo sob forte pressão e restrições institucionais, resistiu. E não apenas sobreviveu: reafirmou sua autoridade moral e institucional ao longo de um dos períodos mais conturbados da história da arbitragem brasileira.

Agora, com a mudança de comando na CBF, a ANAF retoma seu espaço no debate público e institucional. Sob a liderança de Valentim, prepara-se para implementar um plano de gestão focado na valorização da arbitragem, na formação profissional e no diálogo direto com a nova diretoria da entidade máxima do futebol brasileiro.
A mensagem que fica é clara: a tentativa de dividir a categoria fracassou. A representatividade não se impõe por decreto, nem por interesse momentâneo. Se constrói com história, legitimidade e trabalho. A ANAF está de volta ao cenário nacional e mais forte do que nunca.
A ABRAFUT, por sua vez, já integra o passado recente da arbitragem: um projeto agora sem seu maior fiador, sem voz ativa e sem legado real. Um episódio que deve ser lembrado não por seus feitos, mas como alerta sobre os riscos de se abrir mão da representatividade em troca de conveniência institucional.
O tempo agora é de reconstrução, com diálogo, com coragem e com quem nunca abandonou a base.